A Onda
Era uma onda que crescera para lá do meio do mar
e mais se alçava em corpulência das ondas que tragava
pelo caminho. Era uma onda ávida.
Com ela rolavam búzios alucinados, estilhaços de
conchas, madeiros, plâncton, algas, o último alento dos
afogados... Era uma onda violenta.
A exaltação que trazia dos confins do horizonte nem
lhe dera para se interrogar sobre qual o desígnio do seu
destino. Era uma onda embriagada de vida.
Desfraldada em cachão, cavalgava para terra. A rojar-se
sobre os primeiros bancos de areia, esboçou enfim a
pergunta:
- Porquê?
Mas já não teve tempo de responder.
Antonio Torrado