AUTOBIOGRAFIA- MIGUEL TORGA
Férias na Aldeia
Na escola, que fui visitar,o mestre,mal entrei na sala,mandou levantar todos os alunos em sinal de respeito,e nem o Rei grilo se riu daquele cerimonial,que até discurso meteu.
Depois de um intróito solene,o senhor Botelho mostrou os meus ditados,que guardava ciosamente. Pusessem ali os olhos! Vissem ! Vissem! Nem um erro! Nem uma letra tremida!
Nem o mais pequeno borrão! Assim,sim.Quarta classe extraordinária,a minha! Apenas o Godinhas...Enfim,uma excepeção a regra.Por isso mesmo tivera um suficiente no exame.
O único que ele registava na sua longa carreira de professor. Mas os outros... Rapazes aplicados,sensatos,respeitadores, briosos,de que não tinha a mais pequena queixa.Eu então...Agora, uma corja de malandros. Burros,calaceiros,malcriados...
Á despedida,estendeu-me a grossa mão das palmatoadas. Parecia incrível, mas não havia dúvida:era mesmo mão do senhor Botelho a querer apertar a minha.
Quando a fechou,cuidei que me ia estalar os ossos.Qual o quê! Branda e quente,tentava apenas secundar por pequenos abanões a efusão do remate oratório.
----Continua, rapaz ! Honra a terra que te viu nascer eo mestre que te ensinou as primeiras letras...(...)