A abstracção não precisa de mãe nem pai
A abstracção não precisa de mãe nem pai
nem tão pouco de tão tolo infante mas o natal de minha mãe é ainda o meu natal
com restos de Beira Alta. Ano após ano via surgir figura nova nesse
presépio de vaca burro banda de música,ribeiro com patos farrapos de algodão muito
musgo percorrido por ovelhas e pastores multidão de gente judaizante estremenha pela
mão de meu pai descendo de montes contando moedas azenhas movendo água levada pela estrela de Belém. Um galo bate as asas um frade está de acordo com a nossa circuncisão galinhas debicam milho de mistura com um porco a que minha avó juntava
sempre um gato para dar sorte era preto assim íamos todos naquela figuração animada
até ao dia de Reis aí estão um de joelhos outro em pé e o rei preto vinha sentado no
camelo. Era o mais bonito,depois eram filhoses o acordar de prenda no
sapato tudo tão real como o abrir das lojas no dia de feira e eu ia ao Sanguinhal visitar a minha prima que tinha um cavalo debaixo do quarto subindo de vales descendo de montes
acompanhando a banda do carvalhal com ferrinhos e roucas trompas o meu Natal é ainda o Natal de minha mãe com uns restos de canela e Beira Alta.
Joao Miguel Fernandes Jorge