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Maripossa

Tudo que tem asas deve voar,por isso a borboleta selvagem o faz sem nunca olhar para onde.

Maripossa

Tudo que tem asas deve voar,por isso a borboleta selvagem o faz sem nunca olhar para onde.

Cheiro da chuva

05.02.09, maripossa


Tão completamente o meu olhar perdido
Cai e se perde na chuva,
Fazendo poças de lembranças,
Que eu não sei onde o meu sentir se demora mais.
Tateio com os dedos os ramos da árvore da vida,
E escolho neles as palavras mais maduras.



Como fossem frutos,
E dou de comer ao poema do instante,
Para saciar a fome do potro vibrante como um violino,
A galopar no meu peito.
À frente de cada emoção que quase rasga a alma,
Tão completa e profundamente,
Existe a necessidade de exibir a colheita,
Não importa qual ela tenha sido.



Se toda a beleza do existir pudesse ser mostrada,
E toda a dor pudesse ser dividida na sua intensidade,
Assim como os versos entendem o cheiro da chuva,
Que se perde nas ruas,
Bastaria apenas uma tempestade para explicar tudo.
Como basta uma sinfonia,
Ou uma única lágrima dos olhos de quem se ama,
Para nos fazer um mar de enternecimento,
No coração.

Antonio Miranda Fernandes

Amigo, a que Vieste?

03.02.09, maripossa

Onde foste ao bater das quatro horas e, antes, quem eras tu, se eras?
Amigo ou inimigo, posso falar-te agora sentado à minha frente e com os ombros
vergados ao peso da caneta? Falo-te sobre a cabeça baixa e vejo para além de ti, no horizonte, teus riscos e passadas; mas não sei onde foste, nem se eras.
Olho-te ao fundo, sob o sol e a chuva, fazendo gestos largos ou só um leve aceno;
dizes palavras antigas, de antes das quatro horas, e nada sei de ti que tu me digas dessa cabeça surda. Não te pergunto pela verdade, que pensas de amanhã ou se já leste Goethe;
sequer se amaste ou amas misteriosamente uma mulher, um peixe, uma papoila.
Não quero essa mudez de condolências a mim, a ti, ou só à terra que tu e eu pisamos — e comemos. Pergunto simplesmente se tu eras, quem eras, e onde foste depois que se fizeram quatro horas.
Será que não tens olhos? Não tos vejo. De longe em longe agitas a cabeça, mas talvez seja engano. Palavra, não te entendo.
Amigo, a que vieste?

 

Pedro Tamen

 

Praia do Esquecimento

03.02.09, maripossa


Fujo da sombra; cerro os olhos: não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.



Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me sustento.



E do Sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele
quando nasceu.

David Mourão-Ferreira

Hoje levantei cedo

01.02.09, maripossa
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Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus. Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.

Charles Chaplin

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