Num recanto de uma sala junto a uma janela entreaberta
Num recanto de uma sala junto a uma janela entreaberta
estou como se estivesse protegido por uma cúpula de folhagem e escrevo não sobre uma folha mas sobre a pedra azul do dia, e as minhas palavras reflectem o murmúrio do sol e a língua do vento.
Talvez elas venham também de um fundo obscuro, procurar o espaço visível com a sua sede submersa mas eu não conheço o que as move nem o seu alvo oscilante.
No entanto a claridade da página é um álcol leve que vai ardendo ao sopro da matéria que vou vislumbrando em lentos movimentos e assim vejo o vento ordenando-se como uma veia porque a transparência é cega e o seu silêncio emudece-me
E se toda esta brancura aboliu o mundo dela se ergue um pequeno geyser,como as suas minúsculas asas de argila e os seus brancos cálices de pássaros de lua.
António Ramos Rosa
(foto flickr)