O Jardim do Corpo
Ninho de palavras escuras, rumor de folhas de mãos pequenas, insectos de dedicada chama, diminutos fulgores silenciosos.
Entre confusas claridades verdes, na plena humidade, o fogo abre a flor do corpo, intacto e branco. Os astros acendem-se como animais que sabem a direcção do vento.
Esta é a morada ardente e sossegada, o obscuro jardim do corpo e das palavras lisas. Uma alegria de formas, de sons, de cores. A navegação luminosa pela árvore do corpo, pela sua água, pelo seu horizonte de lábios.
O corpo abriu-se e multiplica-se num só corpo e estremece numa ampla respiração como uma folhagem solar.
António Ramos Rosa